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Contar ou não uma traição? Veja quando é melhor guardar segredo


Qualquer casal não está imune a passar pela experiência da traição. Depois vem o dilema: contar ou não, eis a questão? Antes de decidir, é importante fazer um exercício de autoconhecimento –com honestidade– para identificar o que realmente está por trás da vontade de confessar tudo. É preciso se situar para depois tentar situar o outro em uma conversa franca. "Em alguns casos, a traição ocorre justamente pela falta de conhecimento sobre si mesmo, sobre o parceiro ou sobre a relação, na busca de uma satisfação que parece difícil de se obter com quem está", declara o psicólogo Luciano Passianotto, terapeuta de casal do CINAPSI (Centro Integrado de Neuropsicologia e Psicologia), de São Paulo (SP).

Compreender se está na relação correta, se falta dedicação, afinidade ou intimidade entre os dois ajuda a decidir como lidar com a situação. Assim como analisar e assumir o que motivou a escapadela, pois existem inúmeros fatores para alguém cometer uma infidelidade.

Exemplos? Não conseguir ser fiel por causa da própria natureza, não encarar a traição como um problema ou algo "errado", para machucar o outro, para se vingar, para agredir a si mesmo, por insegurança, para reafirmar o poder de sedução, porque surgiu uma oportunidade durante uma crise do casal, porque sentiu vontade, curiosidade, necessidade de ter uma experiência fora da relação.

São inúmeras as motivações. De acordo com Sandra Monice, psicóloga do Espaço Triskell de Psicologia e Psicanálise, de São Caetano do Sul (SP), ao avaliar o que provocou o episódio, podemos ter a dimensão não apenas dos motivos e obstáculos da vida a dois que nos impeliram a trair, mas, também, da medida dos nossos valores, sentimentos, medos e responsabilidades enquanto indivíduos. "Vale questionar: quais os sentimentos que moveram a ação? O desejo por outra pessoa representa uma fuga acidental do atual relacionamento ou estamos resistindo a encarar que não estamos felizes com nossas escolhas?", diz. Trata-se de uma questão envolve inúmeros aspectos como fidelidade, integridade, caráter, exposição de sentimentos, preservação da moral do parceiro e do relacionamento. “Valores éticos e morais à parte, o ponto crucial é analisar se essa revelação vai efetivamente mudar o rumo das coisas para melhor ou para pior. Contar a verdade pode ter várias consequências: alívio da culpa por mentir e ser desleal, revolta do parceiro, ou trazer à tona questões que realmente devem ser consideradas para melhorar a relação”, diz a psicóloga Raquel Fernandes Marques, de São Paulo (SP). Contar acrescenta algo à relação? Na opinião da psicóloga e psicoterapeuta Lourdes Uhlig, de São Paulo (SP), para muita gente, contar ou não sobre a traição tem a ver somente com a necessidade de dividir o​ fardo da culpa que não​ está conseguindo carregar sozinho. "Muitos se dizem arrependidos e depois tornam a repetir o ato”, fala.

Sandra lembra que a culpa costuma ser uma motivação poderosa, porque muitas vezes a traição não passou de um impulso​ momentâneo e o remorso pelo ocorrido tende a ser uma constante. “Em outras ocasiões, a ideia de contar é fruto do sentimento de não estar sendo devidamente valorizado na relação e do desejo de castigar o par,​ provando que ainda pode conquistar outras pessoas", diz.

O medo de que a traição seja descoberta e a dificuldade em lidar com o segredo por causa da culpa e do remorso também podem disparar o gatilho da revelação. "Culpa é o mal-estar causado pela constatação de que infringimos uma barreira moral. Remorso é vivenciar essa culpa repetidamente, a ponto de se transformar num comportamento que começa a atrapalhar as atividades da vida diária, como alterações do​ sono, perda de apetite, entre outras, podendo se transformar em um tormento", diz Sandra. Contar, então, vira uma estratégia de sobrevivência, pois há o risco de o segredo não revelado virar um fantasma que passará a acompanhar todos os momentos ​a dois. Mudanças no relacionamento É importante abrir o jogo quando o casal combinou ser transparente em tudo, pois o ditado "o que os olhos não veem, o coração não sente" não cabe em um relacionamento que se pretende construir em bases sólidas, com respeito. "Se a amizade do casal é profunda e pode aguentar os trancos da vida real, também considero essencial falar o que houve. São casais com suporte emocional da relação, que vão contornar a crise e tentar entendê-la, mesmo que doa, porque desejam ficar juntos e pretendem crescer com isso. Nesses casos, não revelar é que passa a ser a verdadeira traição, e não a própria aventura em si. Esse é o sentido da tão falada lealdade. E muita gente considera mais importante ser leal a ser fiel", diz a psicoterapeuta Carmen Cerqueira Cesar. Durante a conversa, os detalhes são menos importantes do que as circunstâncias que levaram à traição. E é bom se preparar para reações de raiva, desespero ou desejo de vingança. Em vez de tentar apontar a parcela de culpa do outro, é melhor apostar na sinceridade e assumir a responsabilidade pelo o que aconteceu. Muitas pessoas se transformam diante da possibilidade de perda e isso pode significar uma reviravolta e trazer mudanças boas para uma relação. "No entanto, não existe nenhuma maneira de trair que seja redentora para um casamento. Tudo vai depender do momento do casal, da crise que abate a vida deles, dos motivos que os afastaram, dos sentimentos que nutrem entre si, de como foi a infidelidade, com quem, por quê etc.”, fala Raquel. As pessoas sabem que a infidelidade pode acabar com um relacionamento, e que, mesmo quando ele sobrevive, nunca mais é o mesmo. “Talvez por isso seja tão difícil decidir sobre o que fazer quando traiu alguém, mas independentemente do que se faça, contar ou esconder, deve-se saber que a relação precisa mudar. Mais intimidade e atenção, conversar e passar mais tempo juntos pode ajudar na tentativa de superar o episódio e melhorar a qualidade dos dois", declara o terapeuta de casal Luciano Passianotto.

Veja o artigo originl publicado aqui.

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