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​Que seria da vida sem a web?


Especialistas em psicologia clínica comentam a influência da internet na vida das pessoas

​Palco de intercâmbio de informações, discussões políticas, realização de contatos pessoais e profissionais e principalmente de (super)exposição da vida privada, as redes sociais exercem papel central na sociedade atual. Só no Facebook eram 1,35 bilhão de usuários mensais no terceiro trimestre de 2014, segundo balanço divulgado pela própria empresa. Já o Instagram, rede social baseada na publicação de fotos, atingiu a marca de 300 milhões de usuários em dezembro de 2014 – números bem menores que o Facebook, mas que, ainda assim, podem ser considerados altos. Estar conectado, expor a vida privada, publicar selfies e receber curtidas são alguns dos pilares que sustentam as redes sociais. Para a professora Maria Helena Saleme, psicóloga e psicanalista do Instituto Sedes Sapientae, nem sempre a exposição feita na internet revela uma situação real – as pessoas criam uma espécie de “personagem” para agradar os seguidores. O motivo principal seria evitar decepções. “Encontros verdadeiros sempre frustram a gente”, diz. “E esse imaginário não frustra”. Tudo pela felicidade – Outra característica comum nas redes sociais é o interesse pela vida das celebridades, que chegam a atingir milhões de seguidores. O interesse é anterior às redes, mas é potencializado por elas, pois é possível seguir seus passos, curtir suas fotos – que revelam sempre momentos alegres, festas, encontros. A psicóloga afirma que esse interesse revela uma outra característica da nossa sociedade: a necessidade de ser feliz. “Não temos lugar para tristeza, para ficar sozinho, isso ficou como algo negativo”, afirma Maria Helena Saleme. “O que acontece com os famosos? Existe uma imagem e as pessoas acreditam que eles são do jeito que a imagem mostra. Em geral, são ricos, bonitos. É isso que eu quero ser”. Mas o interesse pela vida das celebridades se estende também a anônimos, que ganham notoriedade devido à sua beleza. São muitos os exemplos de pessoas que, antes anônimas, passam a ser famosas devido às redes sociais. Para a psicóloga, isso demonstra que o que importa é a forma, e não o conteúdo. “O culto ao corpo é uma tradição no Brasil”. Apesar disso, Maria Helena ainda acredita que, no fundo, não é fama ou interação o que as pessoas buscam. Mesmo na era da superexposição, elas continuam buscando o amor. Nativos Digitais – A realidade é que os jovens da atual geração desconhecem a vida sem internet. Viver sem o inseparável smartphone parece algo impensável. É isso que Michael Harris, jornalista canadense, discute em seu livro “The End of Absence”, lançado em 2014. Não há dúvidas quanto aos benefícios trazidos pela web: a facilidade para acessar informações e a comunicação instantânea são alguns deles. Mas, para o psicólogo clínico Luciano Passianotto, deve-se ter cuidado ao dar credibilidade às informações. “Como o acesso é mais fácil e tendemos hoje a achar que toda resposta está a dois cliques, é possível que pesquisas rápidas e superficiais resultem em respostas igualmente superficiais, incompletas ou mesmo erradas”, explica. Em pé de igualdade com os pais – Segundo o psicólogo, a velocidade proporcionada pela internet gera um imediatismo que afeta também as relações sociais e a vida fora da rede. “Pessoas são requeridas a atender a ligações ou mensagens de forma quase instantânea para evitar a impressão de que não estão ignorando algo ou alguém”, alerta Luciano Passianotto. Segundo ele, até mesmo a relação entre pais e filhos é colocada em risco, já que os filhos passam a acreditar terem tanto ou mais conhecimento que os pais. “[Os filhos] Acreditam que seu nível sabedoria é igual ou mesmo superior ao dos pais, diminuindo a importância que dão às suas recomendações”, diz o especialista. Sabemos de tudo e, ao mesmo tempo, não sabemos de nada – Michael Harris, em seu livro, também reflete sobre as mudanças comportamentais geradas pelo surgimento e a expansão da internet. Tendo acesso a uma miríade de informações na rede, as pessoas tendem a memorizar menos. Gera-se, assim, um complexo paradoxo: sabemos de tudo e, ao mesmo tempo, não sabemos de nada. Mas existem muitas outras mudanças geradas pela internet. Como antigamente? Hoje, brincadeiras na rua são trocadas por jogos online; brinquedos são trocados por tablets e smartphones. Mais do que isso, o modo de viver é amplamente modificado. Não mais se revelam fotos e cada vez menos se compram CDs. Luciano Passiannotto afirma que essa revolução é natural, assim como a revolução gerada pela invenção da imprensa, e complementa dizendo que “a forma como as pessoas interagem com o mundo está mudando, de forma natural em termos sociais e culturais, só que em um compasso mais rápido e global”. Essas mudanças não são necessariamente negativas ou positivas, apesar do saudosismo de algumas pessoas ou do excesso de empolgação de outras. “Pessoas saudosistas ou melancólicas podem achar que isso é negativo, enquanto progressistas e amantes da tecnologia acharão positivo. Não há certo ou errado, há o diferente. E quanto mais as pessoas se adaptarem a essa nova realidade, mais farão parte da nova sociedade”, finaliza o psicólogo.

Veja o artigo original publicado aqui

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